sábado, 20 de fevereiro de 2016



 Constelações

Walter Benjamin

Krauss, A. (2011). Constellations. A brief introduction. MLN (German Issue), 126 (3), 439-445.

O artigo em apreciação neste trabalho, “Constellations, a brief introduction”, da autoria de Andrea Krauss, foi publicado em abril de 2011 no jornal MLN (Modern Language Notes). No volume 126 deste jornal são compilados vários contributos os quais procuram abordar as questões implícitas ao conceito de constelação, para uma reflexão mais aprofundada sobre o mesmo.
Andrea Krauss é professora e investigadora nas áreas da literatura, filosofia e estética. Esta autora tem ainda desenvolvido um trabalho extensivo no âmbito da teoria literária.
Relativamente ao artigo em apreciação, a autora procura deslindar o seu pensamento por alguns conceitos que considera subjacentes ao conceito de constelação.
Ao longo do artigo destacam-se os conceitos de representação, objeto-formação, leitura, finitude, relação entre o observador e o objeto observado e constelação enquanto conceito filosófico. Neste deslindar, a autora remete o seu pensamento para a filosofia de Kant, Foucault, Adorno e Benjamin.
Analisando o conceito de constelação à luz da astronomia, pode-se dizer que Constelações são grupos de estrelas que vistas da Terra e por se apresentarem próximas umas das outras, formam uma determinada figura no céu.
Todos nós já experienciámos a sensação individual ou coletiva de desvendar as figuras que o céu nos apresenta, como se em cada olhar individual e subjetivo se formasse uma nova figura. Contudo e embora as constelações pareçam evidenciar formas, na realidade essas formas são uma criação humana.
Assim e se de facto as constelações são um criação humana, de que processos inerentes estaremos a falar? De que forma as constelações têm a sua influência no pensamento humano e na sociedade contemporânea.
Desde sempre as constelações enquanto agrupamento imaginário de estrelas foram foco da atenção do homem, o qual ao longo da história tem procurado desvendar os enigmas desses agrupamentos. Dai derivaram narrativas, mapas, alegorias, mitos e outros aspetos que procuraram explicar os mistérios do universo e da vida do homem.
Falar de constelações é falar da Teoria da Representação. A constelação emerge de uma conjugação de fatores, que remetem para um processo interpretativo, subjacente a uma teoria da leitura. Como tal torna-se evidente que ao falar-se de um processo, o mesmo é inerentemente dinâmico e ao qual subjaz a importante relação entre um observador e o objeto observado.
Estamos portanto perante o conceito de objeto-formação, o qual leva a uma leitura, a várias leituras, ou até mesmo à leitura da leitura.
As constelações poderão ser encaradas como uma forma discursiva, pois produzem objetos de conhecimento, baseados numa fundamentação auto reflexiva. Assim impõe-se compreender os limites da razão e a diferenciação do conhecimento moderno.
O artigo que se apresenta é uma breve introdução, tal com o título indica, aos processos e definições inerentes ao conceito de constelação, apresentando breves resenhas de diversos autores baseadas em variadas interpretações, as quais são abordadas ao longo do Jornal MLN (Modern Language Notes).
Nesta introdução, são enunciadas breves incursos pelos pensamentos de: Adorno (Gerhard Richter), Holderlin (Barbara Hahn), Klopstock (Roland Reus), Nietzsche (Jocelyn Holland), Benjamin (Michael Levine e Eric Downing), Aby Warburg (Marianne Schuller),  Kafka (Erica Weitzman), Kant (Jonathan Luftig) e Paul Celan (Kristina Mendicino).
Neste documento procurar-se-à realizar um breve resumo de cada pensamento, tal como retratado pela autoria Andrea Krauss dando especial enfoque ao pensamento de Walter Benjamin.

Se para Kant os limites da razão encontram-se na consciência (Kant, 2001), esta consciência experiencia-se e diferencia o conhecimento moderno através da finitude, a qual impele para o conhecimento e para a auto-superação (Birman, 2002).
A experiência da finitude permite aos mais diversos discursos e géneros unirem-se numa constelação, criando novas interpretações e leituras.
A finitude enquanto âmago excecional para o discurso filosófico, coloca de lado o absolutismo dos conceitos e portanto leva-nos a considerar a epistemologia das Constelações.

Adorno (Krauss, 2011, p.441) procurou fundamentar a Epistemologia das Constelações, na qual a forma linguística assume relevo para o conhecimento.
A conceção filosófica de Adorno assume para ele, uma crítica aos sistemas totalitaristas, como exemplo o nazismo. O pensamento é portanto uma ferramenta da liberdade, da subversão dos conceitos sociais e assim uma forma de constelação em devir.
Desta perspetiva, entende-se que existe um conflito, pois em cada disciplina cientifica novas assunções são assumidas e os problemas anteriormente evidenciados são ora resolvidos.
Para Adorno as constelações possibilitam diferentes insights, diversas leituras complexas que estabelecem novas ligações, entendimentos e relacionamentos, mas sobretudo e por essa via a evidência de um conceito de transmissão, no qual o objeto herdado permanece suspenso como algo aberto e ainda por vir.
A filosofia manifesta-se assim como uma disciplina cada vez mais diferenciada, colocando em evidência a incoerência metodológica (Krauss, 2011, p. 441).
Para Benjamin é precisamente esta incoerência que despoleta a necessidade da afirmação de uma teoria do conhecimento a partir da descontinuidade das ciências modernas e portanto de uma epistemologia das representações.
Falar de constelações implica falar de objeto-formação na literatura, na teoria, na filosofia, na história e isso implica falar da Teoria das Representações.

James McFarland procura falar de constelações como um conceito filosófico (Krauss, 2011, p. 443). Para este autor, a organização da constelação revela uma produtividade específica e uma importante reflexão sobre a relação filosófica entre o observador e o objeto observado.
As perceções espaciais dinâmicas e heterogéneas, para o autor, são o fundamento do pensamento filosófico de espaço em movimento.
Barbara Hahn teve como ponto de partida a leitura do livro de Holderlin, no qual se evidencia a interpretação do principio de uma composição complexa de constelação enquanto modo de escrita. Os vários nomes de constelações indicam estruturas cujos elementos indicam relações múltiplas ou relações meramente ocasionais, mas também relações históricas (Krauss, 2011, p.443).

Através da leitura do poema de Klopstock, Roland Reus associa o conceito de constelação à literatura. Para este autor as relações sintáticas dão origem a uma rede de conexões, as quais colocam em tensão a biografia, a história literária e a organização textual. O autor refere-se à relação entre o contemporâneo e a interpretação do texto literário.
Jocelyn Holland ao ler uma redação de Nietzsche, na qual as figuras ai evidentes são revestidas de pluralidade, fundamenta o seu pensamento sobre o conceito de constelação enquanto construção relacional e aberta (Krauss, 2011, p.443).
 Levine e Downing, procuram analisar nos seus artigos a conceção de temporalidade na teoria de Benjamin, enfatizando a importância da leitura das coisas como um modelo de signos, pois que a leitura trás consigo uma temporalidade e um significado, ou significados nem sempre evidentes, mas escondidos (Krauss, 2011, p.444).
Marianne Schuller utiliza a função mnemónica de Aby Warburg, para a análise do complexo vida após a morte, na qual o arranjo específico de imagens como uma constelação móvel e variada, indicam um processo de representação não-linear (Krauss, 2011, p.444).
Erica Weitzman investiga no seu artigo momentos da comédia de Kafka, analisando o problema da causalidade de Kant (Krauss, 2011, p.444).
Jonathan Luftig aborda no seu artigo o “sentimento do belo e sublime” de Kant. O autor analisa a relação entre o texto filosófico e o texto ficcional, como uma estrutura de suplementação, na qual os momentos ficcionais do discurso filosófico são reconhecidos como fundamentais (Krauss, 2011, p.445).
Por último, Kristina Mendicino analisa o discurso de Paul Celan, analisando a importância da retórica para o discurso, tornando audível uma voz não reconhecida e dessa forma chegar a uma outra retórica (Krauss, 2011, p.445).

Após estas brevíssimas análises, as quais se encontram contempladas no artigo introdutório em apreço, parece evidente que existem diversas conceções filosóficas, díspares e complementares, do conceito de constelação.
Parece igualmente evidente que o conceito em si remete para outros conceitos importantes, atrás abordados e que por essa via tornam o conceito de constelação como algo inacabável.

Falar de constelações implica necessariamente falarmos de Walter Benjamin e do seu pensamento sobre o conceito.
Num artigo sobre o pensamento de Benjamin, é transcrito um pensamento de Paul Valéry que parece bastante pertinente, no sentido de se iniciar uma breve apreciação sobre este conceito:
A observação do artista pode atingir uma profundidade quase mística. Os objetos iluminados perdem os seus nomes: sombras e claridades formam sistemas e problemas particulares…que recebem toda a sua existência e todo o seu valor de certas afinidades singulares entre alma, o olho e a mão de uma pessoa nascida para surpreender tais afinidades…e para as produzir (Otte & Volpe, 2000, p.35).
Este pode ser um excelente mote para o pensamento de Benjamin, o qual destaca a importância da natureza do objeto ficcional e os seus efeitos estéticos, baseando-se na interpretação da linguagem e do procedimento narrativo.
Para o filósofo alemão, a reflexão deve residir nas partes constituintes dos objetos artísticos e filosóficos, os quais remetem para uma constelação, uma atmosfera que habita determinado tempo e espaço.
No fundo Benjamin procura uma nova compreensão para a história humana e a sua ligação com a arte, pois que na verdade ambas fazem parte de um possível traçado constelar.
Benjamin parece falar de uma nova língua, mágica, mas integradora cuja essência está fragmentada na linguagem humana, enquanto expressão de si mesma.
Para este filósofo estamos perante uma nova metodologia para “aceder” ao conhecimento, à essência das coisas e dos seres.
Esta metodologia reside na constelação, cujos fragmentos são ditos pela linguagem humana enquanto memória e inconsciente de uma unidade e transparência efetuadas por imagens (Otte & Volpe, 2000).
A imagem surge como a leitura e acesso ao conhecimento. Esta aparece como elemento construtivo de formas cognitivas, delimitando o limiar entre o real e o imaginário. Ela, a imagem, é o elemento central da Teoria Benjaminiana da cultura.
Uma imagem alegórica, arcaica, de desejo, fantasmagórica, onírica. Sobretudo a imagem do pensamento e da dialética, a qual possibilita o acesso ao saber entre o consciente e o inconsciente.
Benjamin intui a literatura como forma de conhecimento potencial e a imagem (principal elemento construtivo em relação às outras ciências cognitivas) o meio de atingir e despertar um saber adormecido do passado.
A imagem para Benjamin é uma imagem caraterizada pela dialética entre a história (o real) e o sonho (imaginário) e dai a força imagética (ficcional) do objeto literário.
Assim a literatura torna-se um ponto de partida metodológico e não um mero material de apoio para o entendimento da realidade (Benjamin, 2006).
A literatura e a sua ficção, representa na linguagem um saber, outrora inconsciente no imaginário, que quando revelada passa ao consciente do presente.
A ficção pode ser então entendida como o olhar reflexivo e especulativo que a partir de sua natureza imagética, tem em consideração os elementos do real e que despoletam o saber.
A ficção implica empiricamente o objeto e torna-o real. Só assim se entende que o saber adquirido correlaciona-se com as diversas ciências da cognição.
Contudo o despoletar do saber é impulsionado pela instabilidade, pois ao invés do movimento da lógica que forma a aparência surge o insólito. Este movimento materializa um espaço no presente, o que traz à tona o que do imaginário é recolhido como força integradora.
A dialética ocorre portanto pela confrontação entre o real e o sonho para daí emergir uma nova imagem, um novo conhecimento, um novo saber. A dialética é portanto a metodologia que através da imagem se embrenha no passado para trazer à luz o sonho.
Para Benjamin, o conhecimento é assegurado pelo despoletar ou despertar. I.e. a tradução entre uma linguagem inconsciente para o conhecimento consciente, espaço em que se situa um saber não realizado.
Da existência permanece intacto aquilo que não existiu e assim entre o realizado e o possível, entre o concreto e a possibilidade.
Parece ser este o centro dialético do próprio universo ficcional: realizável porque é sempre irrealizável, de modo a se manter como potencial, não assumindo uma feição conclusiva e fechada, mas produtora e viva.
A literatura para Benjamin assume-se como a forma de acesso ao conhecimento de um tempo. Esta forma serve-se dos procedimentos literários como revelação do saber incrustado em diferentes épocas: o mostrar e não o demonstrar; tornar presente o que fora perdido; no lugar do contexto o próprio texto (o que fica evidente no mosaico de citações que preenchem o corpo de seu texto). Esta montagem é usada para interromper, ou mesmo romper a imagem anterior, já sedimentada.
O literário é a forma que desloca os conteúdos temporais e espaciais empedernidos como verdade. A forma passada alterada e cujos elementos se manifestam como fragmentos forma o traçado, a constelação (Benjamin, 2006).
A constelação é portanto a destruição construtiva. É uma forma onde o passado se junta no aqui e no agora.
A literatura movimenta aquilo que está oculto e possibilita a revelação do saber daquilo que se apresenta incompleto entre o imaginário (o sonho) e o real (o contexto). O esgotamento destas últimas formas de discurso é o espaço aberto, onde a literatura irá atuar como produção imagética.
O método de constelação por Benjamin remete para o desdobramento infinito da imagem e para a interpretação dos movimentos históricos que atravessam o tempo e espaço e isto assemelha-se à criação literária onde o pensamento do leitor se rende ao prazer da significação.
A experiencia do tempo é a experiencia do reconhecimento da alteridade, de um despojar-se de si e colocar-se ao serviço do outro, para a constituição de uma identidade-ipse, a identidade de Paul Ricoeur do face-a-face com o outro (Rosa, 2003).
O tempo para Benjamin, adquire um caráter findo como um horizonte ético que confere sentido ao presente e no qual se refunda a relação do sujeito ao passado e àqueles que habitam esse tempo findo.
A dialética do tempo deve ser entendida como a própria dialética da relação com o outro.
O pensamento Benjaminiano encontra o seu fundamento no sentido das palavras, pelo que compreender e interpretar as suas ideias é uma tarefa complexa e inacabada.
A constelação para Benjamin não é somente um conjunto, mas uma imagem, que remete para a relação entre os seus diversos componentes, as estrelas e para a significação possível.
Traçam-se assim diferentes narrativas através do tempo (Otte & Volpe, 2000, p.37).
A teoria constelar de Benjamin, remete-nos para a linearidade intrínseca dos textos e das palavras subjacentes na literatura, assim como das conexões intra e intertextuais, revelando um pensamento exigente e cuidado:
Incansável, o pensamento começa sempre de novo, e volta sempre, minuciosamente, às próprias coisas. Esse fôlego infatigável é a mais autêntica forma de ser da contemplação. Pois o considerar um mesmo objeto nos vários estratos de sua significação, ela recebe ao mesmo tempo um estímulo para o recomeço perpétuo e uma justificação para a intermitência do seu ritmo. Ela não teme, nessas interrupções, perder sua energia, assim como o mosaico, na fragmentação caprichosa de suas partículas, não perde sua majestade. Tanto o mosaico como a contemplação justapõem elementos isolados e heterogêneos, e nada manifesta com mais força o impacto transcendente, quer da imagem sagrada, quer da vontade. O valor desses fragmentos de pensamento é tanto maior quanto menor sua relação imediata com a conceção básica que lhes corresponde (Benjamin, 1984, in Otte & Volpe, 2000, p.39).

Partindo da ideia de que o leitor é na verdade um observador de estrelas, Benjamin destaca a importância do intelecto e da forma como este advém da história.
O historiador-narrador é aquele que observando os fatos históricos, tem a capacidade estoica de colocar de parte o entendimento tradicional da história e procura “(…) empreender de modo constelar a escolha dos vestígios do passado aos quais se debruça e promover entre eles uma possibilidade de releitura que os aproxime” (Otte & Volpe, 2000, p.46).

A filosofia muito própria de Benjamin não é meramente uma escolha subjetiva, mas uma exigência posta pelo seu conteúdo próprio, designadamente pelo tratado, a citação, mas também, o ensaio e o aforismo.
Esta filosofia carateriza-se pela consciência profunda de que a realidade não se deixa enquadrar completamente em um só sistema de pensamento, o qual é por si inconstante e intermitente.  
A filosofia, assim intermitente é a exposição de vários pensamentos, de contradições, e da distância entre a realidade e o pensamento.
A exigência de filosofar desde o concreto e não simplesmente sobre ele vem, desse modo, acompanhada pela presença do elemento providencial.
As constelações do pensamento nascem a partir do caráter experimental da filosofia. Não assentam numa uma base fixa e, nesse sentido, estão sempre expostas à incerteza e ao fracasso.
Esta possibilidade sempre intermitente, previamente mencionada, no entanto, não possui apenas uma consequência negativa, porque a filosofia consciente do seu possível fracasso não hesita em se reinventar constantemente.
Na sua obra Benjamin denuncia aquilo que denomina de conceção burguesa de linguagem, onde esta se converte em mero instrumento de comunicação, deixando de lado a sua propensão inventiva de dizer as próprias coisas, de narrar, ainda que o constante fracasso a condene a um ritmo intermitente.

Por último importa indagar que tipo de filosofia, que forma de pensamento filosófico nos leva Benjamin a viajar.
Certamente a de tornar visível o próprio exercício do filosofar, através de um pensamento em exercício, não pré-formatado. Um pensamento que estabelece o seu próprio caminho, experienciando novas formas e possibilidades.
A singularidade do pensamento de Benjamin reside precisamente na singularidade desse pensamento, o qual é um exercício da sua própria forma.

Este artigo que procurou analisar diversos contributos sobre o conceito de constelação, permitiu acima de tudo empreender que a filosofia não é um discurso do método. Pois que não há um método universal que possa ser adequado à filosofia.
O pensamento filosófico na sua constituição, textura e estrutura exigem um permanente exercício de aproximação, bem como uma constante mutação deste exercício de aproximação.
Pensar filosofia, pensando constelações, pensamos em modelos experimentais de conhecimento e saber.

Para Benjamin a dialética reside na realidade revestida de contradições e o escrito, bem:
 “o escrito é como uma cidade, para a qual as palavras são mil portas” 
                                                                        (Bolle, 2000, p.271)





Bibliografia:
Benjamin, W. (2006). A modernidade. Obras escolhidas de Walter Benjamin, Lisboa: Assírio & Alvim.
Birman, J. (2002). Jogando com a verdade. Uma leitura de Foucault. Physis: Revista Saúde Coletiva, Vol.12 (2), pp. 301-324.
Bolle, W. (2000). Fisiogromia da metrópole moderna: representação da história em Walter Benjamin, 2ª Ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo.
Kant, I. (2001). Crítica da razão pura, 5ªEd. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
Krauss, A. (2011). Constellations: a brief introduction. Modern Language Notes, Vol.126 (3), pp.439-445.
Otte, G.& Volpe, M. L. (2000, janeiro a junho). Um olhar constelar sobre o pensamento de Walter Benjamin. Fragmentos, Vol.18, pp.35-47.
Rosa, J.M. (2003). Da identidade narrativa, Lisboa: Universidade Católica.

sábado, 13 de fevereiro de 2016



O Principezinho e o Carneiro

A Possibilidade do Conhecimento


      1.   A Obra

O Principezinho (Saint-Exupéry, 2015) é uma obra infantil que tem apaixonado crianças e adultos a qual reflete um pensamento profundo sobre questões estruturantes para a Sociedade e para o Pensamento Contemporâneo.
O autor da obra Saint-Exupéry, procurou através das linhas que escreveu de forma poética e simbólica, desafiar os leitores a procurarem dentro de si a experiência da reflexidade, como algo que se revelará através de um processo contínuo de crítica ativa e de autoconfrontação.

Ao leitor, caberá por meio da sua intersubjetividade, capacidade reflexiva (Beck, Giddens & Lash, 2000), sensibilidade estética e hermenêutica indagar sobre os conceitos implícitos ao longo da obra.

À luz da interpretação grega do conceito de tempo, esta história deve ser analisada tendo em consideração o conceito de chronos, o tempo cronológico ou sequencial inerente ao movimento linear das coisas terrenas, uma vez que em 1943 a Europa vivia sob o terror infligido pelo Nazismo. Contudo este tempo, chronos, marcou de forma indelével os conceitos históricos subjacentes à dignidade e liberdade humana, os quais definiram o tempo, kairos, e dessa forma o momento particularmente relevante para a Humanidade.

O Principezinho (Saint-Exupéry, 2015) retrata uma crítica acutilante, mas simultaneamente reflexiva do narrador acerca da superficialidade e do materialismo humano. Critica esta, que deriva precisamente da análise do tempo, kairos, e suas implicações no entendimento dos valores essenciais para a vida humana.

A história deixa-se absorver por duas personagens, o Aviador e o Principezinho. Estes são na realidade o desdobramento da personalidade do autor do livro, o qual procura distinguir o pensamento do adulto do pensamento da criança.
Enquanto o adulto por imposição estereotipada da sociedade coloca-se ao nível dos seus contemporâneos, a criança vai ao longo da história definhando, lentamente, incompreendida, desvalorizada pelos adultos e pela solidão que os assola.

Se todas as histórias infantis se revestem de conteúdo fantasioso, alegórico, simbólico e de uma moral retórica, a obra de O Principezinho (Saint-Exupéry, 2015) não é exceção à regra, pelo contrário. É um verdadeiro tratado filosófico de indagações, reflexões e revelações que são fulcrais para o entendimento do Ser.

O Principezinho (Saint-Exupéry, 2015) é uma viagem de procura e descoberta do que é verdadeiramente essencial ao ser humano e ao sentido verdadeiro da vida.

2.   Filosofia Ansiosa e Poética – os símbolos intemporais

Principezinho, Rosa, Serpente e a Raposa

A viagem do Principezinho não é mais do que um vai e vem de reflexões ansiosas, revestidas de poesia, de angústia, dúvidas e hesitações, através de personagens imbuídas de elevado simbolismo como o Principezinho, a Rosa, a Serpente, a Raposa e o Carneiro. Nesta viagem por diversos planetas, por diversas formas de vivenciar a realidade, confluem diferentes valores estruturais para o ser e para a sociedade.

Este vai e vem poderá significar o desafio freudiano entre o Ego e o Superego (Freud, 2011), sobre a tristeza, a solidão, a esperança, o amor, a ambição, a manipulação, a morte, o imaginário e a imaginação.
Na verdade podemos entender esta história não só como um tratado de filosofia, mas também como uma busca incessante do âmago do ser humano. Assim se compreende que a história é povoada de elementos essenciais ao entendimento daquilo que constitui e deve constituir a alma, bem como dos múltiplos cenários retratados da relação entre o consciente e o inconsciente.

O diálogo de Saint-Exupéry adulto (o Aviador) com o Saint-Exupéry criança (o Principezinho) procura levar à consciência do adulto indagações incómodas.

O Principezinho encarna os sonhos, as angústias e as interrogações do Aviador, assumindo-se como o motor da consciência que o incita a buscar respostas para os enigmas que o atormentam e perseguem.
Neste sentido pode-se destacar o significado latente dos “embondoeiros” – ervas daninhas (Saint-Exupéry, 2015, p.25-26), aqueles que não deixam espaço à individualidade, os que impelem a criatividade, que condicionam as escolhas de cada um, que moldam a personalidade e que se deixam amedrontar pela pressão social.

 Para o Principezinho, a angústia é latente, a solidão é um estado permanente e a depressão instala-se de cada vez que o próprio procura pensar à sua semelhança e não à semelhança do mundo dos adultos.

No fundo a história demonstra-nos a clivagem entre a forma de pensar da criança e do adulto. Esta última é inegavelmente talhada e dominada pelo peso dos estereótipos sociais. Por isso o Principezinho necessita da doçura do sol, numa tentativa de contrariar os pensamentos depressivos que o vão assaltando ao longo da história (Saint-Exupéry, 2015, p.30).

Os planetas, os habitantes desses planetas e o próprio Principezinho, ele personagem em si mesmo, inexistente sem o outro, evidencia-se ao leitor como um profundo “tratado” de filosofia, para que porventura cada um de nós não per si, não independentemente do outro, possamos imaginariamente habitar um desses planeta. Ou talvez não imaginariamente, mas porque a cada viagem atracamos numa emoção que nos poderá trazer à luz para a verdade da vivência na relação com o outro.

O Principezinho encarna os seus próprios sonhos, interpretações e perceções, que se submetem à sua consciência para encontrar respostas aos enigmas e aos seus desejos e as personagens da história existem por um motivo muito relevante: o de interrogar e fazer refletir através da capacidade simbólica e da imaginação acerca dos valores subjacente à sociedade e ao ser humano.

O Principezinho dúvida e interroga-se nas diversas viagens aos mais variados planetas, procurando um entendimento sobre os valores do Homem.
Contudo, a dúvida trás consigo a incerteza, a insegurança e estas são a fragilidade do Principezinho, ou melhor a fragilidade do Homem. Mas para conhecer, o Principezinho deve duvidar, pois tal como Descartes referiu duvidar é pensar, e esta é a sua primeira irrefutável certeza – “se duvido, penso, e se penso, existo. Eu penso, logo existo”. (Descartes, p. 100, 102).

Ao longo dessas inúmeras viagens, o Principezinho faz um périplo por diversos planetas, os quais se revestem de diferentes personagem que o impelem a descobrir diversos valores, pensamentos e em última análise para a construção de diversos tipos de sociedade.

Essas personagens caraterizam simbolicamente os aspetos mais fúteis e contraditórios da sociedade desde logo: a autoridade, o ordenar e fazer-se obedecer; a vaidade e o egocentrismo daqueles que vivem do regozijo; a embriaguez como fuga (fuite en avant) dos problemas; a avareza de quem só vive para amealhar dinheiro e dessa forma se encontra completamente absorto de tudo o resto; os que se apropriam do mérito dos outros; e os que por falta de autonomia obedecem às mais estapafúrdias ordens.

Na viagem ao Planeta Terra, a história destaca as personagens da Rosa, da Serpente e da Raposa, as quais nos remetem para a verdade, ou as verdades da Terra.

O Principezinho simboliza a esperança, o amor e a inocência da infância que reside no inconsciente dos Homens e a capacidade de trilhar o próprio caminho, sem esquecer e simultaneamente reconhecendo que “o essencial é invisível aos olhos” (Saint-Exupéry, 2015, p.86). Através desta personagem pode-se simbolicamente entender que a inocência não é mais do que o conhecimento dos valores, da verdade e da revelação mais além. Assim aquilo que é invisível aos olhos e que portanto não se evidência, parece adquirir uma elevada importância para o pensamento.

A Rosa surge na história como o primeiro amor do Principezinho. Um amor total, absoluto e ingénuo. Ela simboliza a perfeição, o amor, a alma, a pureza, a beleza e o desabrochar do botão simboliza o segredo e o mistério da vida. Gandhi referiu num dos seus inúmeros pensamentos que a vida de cada qual fala como uma rosa e que esta atrai até aqueles que não a vêm.
A Rosa é o sentimento, o amor, que liberta e em torna da qual toda a história se encena para o Principezinho, a sua viagem, a sua tristeza, a busca noutros planetas e o seu regresso. A Rosa é a base do pensamento do Principezinho, pela sua individualidade, fragilidade e unicidade – “essa germinara de um dia para o outro, de uma semente vinda sabe-se lá de onde” (Saint-Exupéry, 2015, p.36). Talvez veio da imaginação do Principezinho, para ser amado e para que assim se conheça a si mesmo.
A relação entre a Rosa e o Principezinho leva-nos a entender que é nos atos que encontramos a essência do outro e não na superficialidade das palavras – “Devia tê-la julgado pelos atos, não pelas palavras” (Saint-Exupéry, 2015, p.39).
Mas ainda assim o verdadeiro significado implícito desta relação, reside na inevitável importância de o Principezinho se conhecer a si próprio primeiro, para que depois possa estar disponível para conhecer o outro – “se fores capaz de te julgar, é sinal de que és um verdadeiro sábio” (Saint-Exupéry, 2015, p.25-26p.48).

 A Serpente surge na história como a personagem relacionada com a ciclicidade e com o eterno, representando simbolicamente a morte, o único mistério que o homem não pode conhecer até que chegue o momento, a verdade – “posso levar-te mais longe do que um navio” (Saint-Exupéry, 2015, p.72). Contudo para o Principezinho a morte é encarada como algo que será inevitável, não como um fim, mas como um meio para o regresso a si mesmo.

 A Raposa habitualmente personagem ardilosa nos contos infantis surge nesta história como uma peça e eixo essencial para a evolução do pensamento do Principezinho. Para esta nós somos resposáveis por aqueles que amamos, sobretudo por aqueles com quem criamos laços e que por essa via cativamos. O processo de conhecimento do outro é complexo e para a Raposa cativar o outro é uma tarefa imprescindível, ainda que morosa, pois só assim poderemos aceder à verdadeira essência do ser.
Para o Principezinho existiam muitas Rosas, mas a dele era especial e única e foi o tempo que lhe dedicou, o tempo que lhe depositou o seu coração que a tornou tão importante para ele – “Foi o tempo que perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa importante” (Saint-Exupéry, 2015, p.86).
A Raposa sintetiza nesta história a matriz dos valores humanos. Esta personagem ensina ao Principezinho e a nós, que “o essencial é invisível aos olhos” (Saint-Exupéry, 2015, p.86) e que a morte não é motivo para tristeza, porque o ser humano é uma metamorfose do essencial.

3.   O Desfecho Indeclinável – O Carneiro (res cogitans)

A viagem do Principezinho além de pessoal, além de revestida de inúmeras emoções é acima de tudo imaginária. Porque no imaginário cabe tudo aquilo que lá queiramos colocar ou interpretar.

É a função simbólica e imaginária que faz do Principezinho um ser impar, inigualável e subjetivo. E é na sua subjetividade sobre o que é viver de verdade, sobre o que é vivenciar o mundo enquanto criança e adulto, que o segredo da vida se revela.
Indagar sobre o segredo da vida é complexo e o Principezinho demonstra-nos que “o essencial é invisível aos olhos” (Saint-Exupéry, 2015, p.86) de tal forma que aquilo que imaginamos faz parte integrante de nós próprios.

Ao imaginar um carneiro dentro da caixa (Saint-Exupéry, 2015, p.15), um carneiro feito a seu gosto, o Principezinho retrata-nos o pensamento filosófico de Descartes. Se o Principezinho existe, aquilo que ele imagina também existe, no sentido em que “eu sou, eu existo” (Descartes, 1976, p.100) e que isto é necessariamente verdade “todas as vezes que o enuncio ou que o concebo em meu pensamento” (Descartes, 1976, p.100). Aos olhos desprovidos de imaginação seria somente uma caixa, mas para o Principezinho tratava-se de um carneiro fruto do pensamento imaginário e portanto conhecimento e realidade.

 A História de O Principezinho, trás em si, a história do Principezinho, que dúvida, que concebe, que afirma e ao mesmo tempo nega, que quer e não quer…e que sente e imagina. Pois o poder de imaginar, ainda que não factual, reside dentro do Principezinho e indubitavelmente faz parte do seu pensamento.
Analisando a obra de O Principezinho (Saint-Exupéry, 2015) à luz do pensamento Cartesiano pode-se considerar que a característica essencial do ser humano reside na dúvida relativamente à sua existência, sobretudo no que diz respeito ao espírito, mas também à importância dos sentidos (Descartes, 1976).
A obra de O Principezinho não é mais do que uma confluência de símbolos inerentes ao pensamento humano, os quais demonstram a importância inegável da imaginação. Embora Descartes assuma que a estrutura filosófica parte da sua existência, logo da razão, o próprio considerou que é algo que pensa, que duvida, concebe, afirma, nega, quer e sente (Descartes, 1976, p.103). Com isso o filósofo abre a sua teoria para a questão dos sentidos, considerando que mesmo que as ideias que se lhe apresentem sejam ilusões, elas existem pois não pode deixar de pensá-las. Assim os sentidos e imagens formam o seu pensamento, tal como para o Principezinho a imaginação surge como forma de indagar e conhecer a realidade.

A imaginação, aquela que o Principezinho coloca ao serviço das indagações para chegar ao pensamento filosófico, embora não tenha existência no real não pode deixar de ser entendida como fazendo parte do Eu, da alma e do pensamento.

Para Descartes, o Homem é um ente pensante, que além de pensar, duvida, sente e imagina (Descartes, 1976, p.103). Para o Principezinho a imaginação é o caminho para se conhecer a si mesmo e ao outro e certamente consideraria que embora “as coisas que imagino não sejam verdadeiras, este poder de imaginar não deixa, no entanto, de existir realmente em mim e faz parte do meu pensamento (Descartes, 1976, p.103).


4.   Resenha Pessoal – Dos princípios do Conhecimento Humano

A obra de O Principezinho, deve ser (re)lida como uma tarefa de felicidade, como um caminho para a reflexão e revelação sobre os valores implícitos na vivência humana, os quais se devem cimentar em princípios.
Mas que princípios? Como deveremos “despir-nos” de (pre) conceitos, da superficialidade humana e deixar-nos contagiar por aquilo que é essencial, ou que é a essência de si mesmo e que na relação com o outro se apresenta como o âmago da Coisa Pensante, Res Cogitans (Descartes, 1976)?
Uma incursão pelos Princípios da Filosofia à luz de Descartes (Descartes, 1989) poderá servir como ponto de referência para a ligação que procurei estabelecer entre a obra de O Principezinho e a Constatação do Cogito de Descartes, tendo por base que uma coisa que pensa existe ao menos enquanto pensa.

Para Descartes a dúvida foi o método pelo qual o próprio pensou chegar à certeza indubitável sobre si e sobre a existência. Assim a dúvida aparece na teoria Cartesiana como um meio positivo, para encontrar a lógica da existência.
De entre os mais diversos Princípios por si analisados, Descartes considerou que o fundamento do pensamento filosófico se encontra na dúvida e que “não podemos duvidar sem existir, e que isso é o primeiro conhecimento certo que se pode adquirir” (Descartes, 1989, p.55).
A ideia de que não há nada no mundo de certo e de que o pensamento se coloca ao serviço do conhecimento afigura-se como um dos princípios fundamentais para Descartes e para muitos filósofos que seguiram o seu pensamento.
A dúvida do Principezinho relativamente à Rosa, que ele não foi capaz de entender nas suas contradições, possibilitou ao próprio Principezinho a sua existência.

A obra abordada neste trabalho refere-se a uma história composta por símbolos, os quais pretendem despertar no leitor a reflexão sobre os seus significados.
Os símbolos criados pelo Principezinho ao longo da história, para que ele próprio possa indagar e descobrir a verdade das coisas, leva-nos a todos a viajar por planetas e personagens inexistes, mas carregadas de conteúdo simbólico.
Não é ao acaso que a personagem principal é uma criança. Na verdade a criança é o ser por excelência que utiliza como ferramenta para o pensamento e conhecimento o simbólico, a perceção e a imaginação. O pensamento da criança serve-se destas ferramentas para representar o real, para aceder à sua essência e à essência do outro - “imaginar, mas também sentir, são aqui a mesma coisa que pensar” (Descartes, 1989, p. 58).

Os símbolos da história tais como a Rosa, a Raposa e a Serpente, não são mais do que personagens imaginárias que embora não pertencentes ao mundo real, possibilitam aceder ao conhecimento, porque o Principezinho pensa nelas e procura por meio delas chegar à essência do conhecimento de si e do outro. A imaginação supera o conhecimento pois não possui limites, desafia e impulsiona o ser a novas descobertas, a novas representações e a um novo conhecimento.
Ainda que Descartes na sua obra (Descartes, 1976) não assinale de forma vigorosa a importância do inconsciente, ao falar de imaginação e de perceção, fala da importância destes dois conceitos para o pensamento – “e tenho também certamente o poder de imaginar (…) pois, ainda que as coisas que imagino não sejam verdadeiras (…) faz parte do meu pensamento” (Descartes, 1976, p.103).

Esta é uma história repleta de símbolos, de imaginação ao serviço do conhecimento da essência de si mesmo e do conhecimento da essência do outro, como forma de encontrar a verdade da relação humana. Indubitavelmente todos fazemos parte desta história e por isso mesmo ela é intemporal e cativa todos aqueles que a leem.
Seremos muitos os principezinhos, inocentes, corajosos e curiosos, porque almejamos ver para além.
Alguns de nós seremos a Rosa, sedutora e generosa, porque quem ama verdadeiramente liberta.
Por vezes cruzamo-nos com a Serpente, sábia e poderosa que nos leva a conhecer a verdade.
E a Raposa? Quantos não gostariam de ter uma raposa, amiga e responsável sentada ao lado sob a paisagem de um lindo horizonte, fazendo-nos refletir e pensar sobre os valores essenciais da vida. Só ela nos pode enunciar que “só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos” (Saint-Exupéry, 2015, p.86) e que a imaginação molda o nosso pensamento e as representações que fazemos do real.

 Bibliografia
Beck, U., Giddens, A., & Lash, S. (2000). Modernização reflexiva. Política, tradição e estética na ordem social moderna [PDF]. Retrieved from http://cadeiras.iscte.pt/SDir/Beck_ModRefl_.pdf
Descartes, R. (1976). Meditações sobre a filosofia primeira (G. Fraga, Trad.). Coimbra: Almedina (Obra original publicada em 1904).
Descartes, R. (1989). Princípios da Filosofia, 4ª Ed. Lisboa, Guimarães Editores, Lda.
Freud, S. (2011). O Eu e o Id, Autobiografia e outros textos [PDF]. Retrieved from https://joaocamillopenna.files.wordpress.com/2013/10/freud-obras-completas-vol-16-1923-1925.pdf
Saint-Exupéry, A. (2015). O Principezinho. Porto: Porto Editora.